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29 de out. de 2009

MEIO AMBIENTE NO DIVÃ

Era o século XXI e ele, o Meio Ambiente, já estava pra lá da terceira idade. Mas precisava de análise, urgentemente... Procurou um especialista na área e deitou-se em seu divã. Angustiado, necessitava fazer uma catarse.

Podendo falar como se não estivesse sendo ouvido, e já acostumado à situação de ser ignorado, abriu seu coração, sem reservas. Foi à infância. Imaginou sua concepção pelo Criador, lembrou sua adoção pelo ser humano, seu desenvolvimento, seu abandono...

Neste momento se deu conta da raiz de sua angústia. Procurou em si as razões para tão miserável ato, mas não se achou culpado. Reviveu, ainda, sua história a partir daí. Foi comprado e vendido, subestimado e explorado, aviltado e violentado. Traumas terríveis que não puderam ser superados, mas foram confirmados ao longo da história.

Ali, deitado no divã, paralisado pela realidade que encarava, em pleno exercício de autoconhecimento, percebeu ser vítima de uma neurose coletiva, herdada e fomentada por todas as gerações. Deu-se conta, por um momento, de estar assumindo o papel de “bode expiatório” da humanidade, que, assim, colocava em evidência sua necessidade de autodestruição, seu desejo de morte. Compreendeu, num sobressalto, que, se a questão era coletiva, precisavam todos de um “momento divã”, de uma auto-análise, para fazerem suas catarses e exporem suas mazelas. Era necessário que deixassem vir à consciência a necessidade de achar e arrancar sua raiz de amargura, que os levava a potencializar o instinto de morte, latente em tantos indivíduos, e que usavam como mecanismo de ataque, transferindo suas frustrações para o meio em que viviam.

Ao final da análise, o Meio Ambiente, que buscava apenas estar inteiro na sociedade, deixou o divã e aderiu ao ditado popular de quem não consegue solucionar um problema ou resolver uma questão – “Freud explica”.

Keli Arruda
Teóloga e Psicanalista por desejo e convicção

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